REINALDO GOMES FERNANDES PIMENTA nasceu na antiga fazenda
"Sabe-Muito", berço de filhos ilustres do município de Caraúbas e do
Estado, no dia 13 de julho de 1863. O seu pai era o Tenente da Quarta Companhia
das Guardas Nacionais, Manoel Lúcio Fernandes e a mãe D. Inocência Gaudêncio
Fernandes.
No começo da década de 1880, seguiu para a cidade de Natal, em companhia
de seu irmão Antônio Carlos Fernandes Pimenta que havia sido eleito pelo 2º
Distrito Deputado à Assembleia Provincial no biênio 1882-1883. É reeleito para
os biênios 1884-1885 e 1886-1887. Em Natal, ingressou no velho Atheneu, onde
estudou dois anos, empregando-se depois, por influência do seu aludido irmão,
como amanuense da Secretaria do Governo Provincial.
A sua permanência neste cargo não foi demorada, pois já em princípios da
outra década, 1890, se encontrava novamente na casa paterna, no
"Sabe-Muito", tentando a vida nos labores do campo e do comércio. A
esse tempo o fato mais importante de sua vida foi o seu casamento, no dia 16 de
janeiro de 1897, com D. Abigail Fernandes de Oliveira, filha do Dr. Manoel
Antônio de Oliveira. Desse consórcio nasceram quatorze(14) filhos, criando-se
somente nove, pois cinco morreram nos primeiros meses.
Com a sua vocação inata para a vida pública, começou cedo a tomar parte
nos assuntos políticos de seu município, ao lado de seu tio Coronel Luiz Manoel
e de seu primo Cesário Fernandes, então chefe político de Caraúbas e Deputado
Estadual. Em 1910, morre Cesário, no esplendor de seu prestígio político. As
forças partidárias dominantes no município, por consenso unânime, escolheram
Reinaldo Pimenta, que já era o 1º lugar-tenente de Cesário, para seu substituto
na chefia da política local. Neste posto, Reinaldo se manteve, desfrutando
indiscutivelmente prestígio no Município e no Estado, até a Revolução de 1930,
que pela força atirou-o no ostracismo, embora poupando-o aos vexames impostos a
outros políticos decaídos. É que os outros dominadores do município, na sua
grande maioria, haviam sido seus discípulos políticos e não esqueceram as
lições e exemplos recebidos de harmonia, tolerância e paz.
Em 1913, houve a grande campanha política pela sucessão ao Governo do
Estado, disputado pelo Senador Ferreira Chaves e Tenente Leônidas da Fonseca,
filho do então Presidente da República e a cujo serviço o Capitão José da Penha
colocou as forças da sua bravura e da sua inteligência. Reinaldo com seus
amigos deram imensa vitória ao Senador Ferreira Chaves e ele, por sua
vez, saiu eleito Deputado Estadual para o triênio 1913-1915. Nesta legislatura,
para a qual fora eleito deputado pela primeira vez, conseguiu elevar Caraúbas
de Vila a Cidade pela Lei. 372, de 30 de novembro de 1914. Antes já fora
Presidente da Intendência nas legislaturas de 1903 a 1913(Revista do Instituto
Histórico, Vols. 1930-1931, pg. 1320).
Em 1919, surge nova renhida campanha pela sucessão do Governador
Ferreira Chaves e pela renovação da Intendência Municipal. Nas duas eleições,
as chapas apoiadas pelo Partido de Reinaldo Pimenta obtiveram espetacular
vitória e ele, pela segunda vez é eleito deputado estadual para a legislatura
1919-1921. Nesta sua segunda permanência no Congresso do Estado, conseguiu para
Caraúbas a criação de uma Coletoria de Rendas Estaduais, instalada e posta em
funcionamento no ano de 1920.
Em princípios de 1924, organizou um movimento para a criação de uma
Coletoria de Rendas Federais, em Caraúbas, elaborando um memorial dirigido ao
Ministro da Fazenda, provando a justiça da pretensão. O apelo, mau grado a
descrença de muitos e até o riso zombeteiro de alguns, foi atendido e no mês de
agosto daquele ano, com festas, músicas e discursos, foi inaugurada a
Coletoria. Durante a sua chefia política foram instalados, em Caraúbas, vários
serviços do Governo Federal, como a estação da Estrada de Ferro de Mossoró a
Souza(PB), em setembro de 1929, serviços públicos em favor dos quais empregou
todo o seu prestígio junto aos poderes competentes.
O Mercado Público da cidade, inaugurado em 1918, é obra do seu esforço e
coragem, pois teve de enfrentar agitada onda de interesses contrariados.
No ano de 1925, foi novamente eleito deputado estadual para completar o
triênio 1924-1926.
Com a reforma da nova Constituição Política do Estado, promulgada no dia
24 de agosto de 1926, foi criado na administração municipal o cargo de
Prefeito, função de natureza executiva até então exercida pelos Presidentes de
Intendências. Realizando-se as eleições para este cargo em setembro de 1928,
conforme os arts. 83 e 1º das Disposições Transitórias da mesma
Constituição, foi Reinaldo eleito primeiro Prefeito Constitucional do município
para o triênio 1929-1931. Empossando-se neste cargo, ofereceu à sua terra as
energias de que não dispunha, não obstante a sua já avançada idade e precário
estado de saúde. Foi neste seu período administrativo que a cidade recebeu o
serviço da iluminação elétrica, da limpeza pública das ruas e praças, os
primeiros trabalhos de abertura e conservação de estradas carroçáveis, tudo
isso feito com verbas atuais. E no meio destas múltiplas atividades, ainda
foram sobre os seus ombros que se jogaram os trabalhos da remodelação completa
da Matriz(Altar-Mór, teto e piso), num apelo que lhe fizera o Vigário da
Freguesia, Padre Benedito Alves e o membro principal da Comissão dos Serviços,
Cel. Rosendo Fernandes.
Devido sem dúvida a sua idade, saúde arruinada e excesso de trabalhos,
em meados de 1930, Reinaldo sentiu-se na impossibilidade momentânea de
continuar empunhando as rédias da administração municipal. Requereu a
Intendência uma licença de seis meses e no dia 1º de julho passou o exercício
do cargo ao seu substituto legal, Cel. Jonas Gurgel, Presidente da Intendência.
Foi no gozo desta licença que o alcançou a Revolução de outubro daquele ano,
arrebatando-lhe a direção política do município, exercida durante vinte anos
pelo consenso da maioria maciça dos caraubenses.
Recolheu-se inteiramente a vida privada até os primeiros momentos de
reconstitucionalização do País. Era seu desejo, sempre revelado à família e aos
íntimos, não mais voltar à atividade política. Todavia, por lealdade aos amigos
nas horas da adversidade, ainda participou de alguns embates, não mais na linha
da frente, como sempre o fizera, pois a sua saúde a tanto não permitia.
Voltando o Estado ao regime constitucional, com a eleição do Dr. Rafael
Fernandes Gurjão para seu Governador, por apelos insistentes deste seu velho
amigo ainda aceitou a nomeação de Prefeito de Caraúbas, em 1936. Neste cargo,
porém não demorou mais de seis meses, pois com as naturais preocupações do seu
desempenho, a saúde de Reinaldo agravou-se, o que deu motivo aos seus
reiterados pedidos de demissão, atendidos constrangidamente pelo Governador,
conforme telegrama que lhe dirigiu. O Órgão Oficial do Estado - A
República - noticiando o seu afastamento da vida pública estampou honoríssimo
comentário a seu respeito, num estilo elegante que traia a pena de seu Diretor,
Dr. Eloy de Souza, velho amigo de Reinaldo.
Ninguém pense, porém, que afastado da vida pública Reinaldo esquecesse o
progresso de Caraúbas. Dispondo de regulares recursos financeiros, começou a
enriquecer o patrimônio urbanístico da cidade, comprando, remodelando e
construindo casas, a ponto de no seu inventário, em 1941, serem arroladas mais
de sessenta construções só na cidade.
O que porém mais distinguiu o espírito público de Reinaldo Pimenta
foi a sua tolerância e compreensão humana, procurando resolver todos os casos
com harmonia e cordura, de sorte que ninguém se sentisse diminuído ou
humilhado. Era uma espécie daqueles homens bons do tempo da Colônia, que viviam
apagando incêndios. Em Caraúbas ainda existem muitas testemunhas que
presenciaram Reinaldo resolver questões de terra e de outra natureza, tirando
de sua carteira e pagando de suas economias indenizações que litigantes
caturras cobravam de outros, fazendo isto com a única intensão de ver a paz do
seu povo. Nas campanhas políticas, por mais extremadas que fossem passada a
refrega, esquecia as ofensas recebidas e num gesto largo oferecia a mão aos
adversários, muitos dos quais eram por ele amparados com empregos e outros
benefícios, quando ainda quentes as cinzas da luta. Não era capaz de guardas
ódios.
Na madrugada do dia 30 de agosto de 1941, ao terminar a recitação do
Ofício de Nossa Senhora, sucumbe ainda na cama, vitima de um derrame cerebral.
A notícia espalha-se rapidamente pela cidade e a casa tornou-se o ponto de uma
verdadeira romaria. À tarde, o seu corpo foi conduzido ao cemitério local por
uma multidão de duas mil pessoas, presente o mundo oficial local, pessoas de
outros municípios, formadas as escolas públicas da cidade e tocando a Banda de
Música marchas fúnebres. Ao baixar o corpo à derradeira morada, falou, em nome dos
amigos o Professor Lourenço Gurgel de Oliveira. A Edilidade Caraubense decretou
feriado municipal a data de sua morte.
Como se viu pelo esboço biográfico aqui escritor, foi Reinaldo Pimenta
um filho que honrou Caraúbas e cuja vida pode e deve servir de exemplo às
gerações presentes e futuras.
FONTE: Caraúbas Centenária, de Raimundo Soares de Brito. Segunda Edição. 1959 -
1999. Fundação Vingt-Un Rosado. Coleção Mossoroense. Série: C - Nº 1062. 1999
*FRANCISCO VERÍSSIMO - BLOG FATOS
DE CARAÚBAS - PORTAL FATOS DO RN